domingo, 1 de dezembro de 2013

Porque a China tem um assento permanente na ONU e a Alemanha não?


Por que a China é membro permanente do conselho de segurança e outras potencias como a Alemanha, Itália, Japão não são?

Além disso, o que significa ser membro permanente do conselho de segurança?


Organização das Nações Unidas

É no mínimo intrigante pensar que a China, um dos países mais pobres e miseráveis até pelo menos a década de 1990, estava no mesmo patamar de poder do que EUA e URSS, por exemplo.

Para entendermos como responder a primeira pergunta acho interessante olharmos para a segunda.
O conselho de segurança da ONU é o órgão máximo da organização, que toma as decisões mais importantes como autorizar missões diplomáticas e de paz ou até autorizar intervenção militar.

Conselho de Segurança da ONU

Atualmente o conselho é composto por 15 membros, dos quais 5 tem assentos permanentes e 10 são rotativos, trocam a cada 2 anos.

Os países que possuem o assento permanente são: EUA, Grã-Bretanha, França, China e Rússia.
Toda decisão precisa da aprovação de, pelo menos, 9 membros. A grande questão é que qualquer um dos países com assento permanente tem poder de veto. Isso significa que mesmo que 14 membros votem a favor de uma decisão, ela será valida se um dos países com assento permanente votar contra.

Claramente o veto é um enorme poder nas mãos desses 5 países, que não são exatamente aliados, o que gera impasses como a intervenção na Síria, requisitada pelos EUA e vetada consistentemente pela Rússia ou qualquer intervenção mais forte na Coréia do Norte, vetada pela China.
Charge do Kal: Intervenção na Siria - Fonte: The Economist

Para entender como os assentos permanentes de segurança foram definidos voltamos até o final da Segunda Guerra Mundial, quando os países aliados, principalmente os EUA e Grã-Bretanha, chegaram a conclusão que a antiga Liga das Nações, apesar de ser bem-intencionada, falhou em ser um órgão mediador e mantenedor da paz mundial, já que não evitou a ascensão nazista e a Segunda Guerra Mundial. No lugar dela decidiram criar a Organização das Nações Unidas, a ONU, que funciona até os dias de hoje.

Porque a Liga das nações não funcionou e quais as diferenças da ONU são assuntos para outro post

Na Segunda Guerra os principais países aliados que venceram a guerra foram: EUA, França, Grã Bretanha, URSS, além de vários outros países menores que também contribuíram para a derrocada nazista (inclusive o Brasil).

É natural pensar que esses países seriam os controladores da nova organização mundial, já que haviam ganho a guerra. É curioso notar que a URSS e os EUA estavam do mesmo lado durante a guerra e passaram a ser inimigos antes mesmo do fim do conflito, o que ocasionou o período da Guerra Fria, também natural é o fato de que a Alemanha, Itália e Japão foram deixados de fora, já que estavam do lado perdedor.

Mas ainda fica a dúvida, porque a China foi incluída no grupo?

Sim, a China participou da guerra ao lado dos aliados, mas serviu mais como saco de pancada japonês que outra coisa. Quem venceu a guerra do Pacífico foram os EUA (que quase perderam para os japoneses).
É verdade que os chineses sofreram muito nas mãos dos japoneses, com milhões de mortos em decorrência da ocupação, mas isso não justifica o assento, já que diversos outros países sofreram o mesmo ou mais, como a Coréia ou a Polônia.


Invasão japonesa da China

A questão é que a China era o único país da Ásia, além da URSS, que poderia fazer frente ao Japão, assim pensavam na época e é por esta razão que ela ganhou o seu assento.

Você pode se perguntar se faz sentido os EUA, Grã-Bretanha e França,  entregarem tanto poder para um país comunista, mas não foi bem isso o que aconteceu.

Até 1971, a “China” que detinha o assento permanente não era a República Popular da China (mais conhecida como China ou China continental) e sim a República da China (mais conhecida como Taiwan), a confusão vem porque as duas se consideram “a” China. Por volta dessa ano a China comunista rompeu ligações com Moscou e adotou uma política própria, fazendo com que os EUA buscassem se reconciliar com este governo. Com essa mudança o número de países que reconheciam a China continental como a “verdadeira China” superou os que reconheciam o governo de Taipei, fazendo com que o representante de Beijing tomasse o assento permanente, com todo poder e influência que ele traz.

Atual representante chinês na ONU - Fonte: News.CN

É por causa desses percalços e “detalhes” históricos que a China comunista, e não a Alemanha, Itália e Japão, está no Conselho de Segurança da ONU.

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