O Datafolha realizou pesquisa, em Novembro, com mais de 4500 pessoas, questionando-as acerca de suas opiniões sobre questões sociais e econômicas. Em seguida o instituto classificou os entrevistados dentro do espectro esquerda-direita, de acordo com as definições de senso comum para cada corrente política. Com apenas 10 perguntas simples já possível pode obter uma classificação razoavelmente precisa de sua posição política: http://www.theadvocates.org/quiz/quiz.php#.
(Meu resultado: http://www.theadvocates.org/quiz/images/graphImages/70_40.png)
Apesar das excessivas generalizações, o estudo traz insights valiosos para análise e uma grande dúvida. Se quase 40% do eleitorado tem tendências de direita, aonde estão os partidos e candidatos que os represente? Porque a direita, em especial a associado ao liberalismo econômico e ao estado mínimo praticamente sumiu do debate político nacional?
Além disso, algumas das questões perguntadas também revelam fatos importantes da sociedade brasileira e mostra que somos mais conservadores do que acreditávamos.
Se a pesquisa pergunta-se diretamente se o eleitor se considera de esquerda, de centro ou de direita, certamente muito poucos eleitores se declarariam direitistas. O mesmo ocorre com os partidos.
Dos 32 existentes no Brasil, nenhum se declara abertamente "de direita". É um caso único no mundo entre as grandes democracias. A partir do histórico de seus candidatos (boa parte da antiga ARENA e suas diversas divisões) e de suas cartas-programas, PP, PR e DEM são passíveis de serem classificados como partidos de tendências econômicas mais liberais que defendem um estado menor. PP e PR foram por muito tempo da base aliada do governo petista, enquanto o DEM está entrando em extinção. Além deles os nanicos PSC e PRB, ligados a grupos evangélicos são abertamente conservadores sociais (ou em relação a questões de comportamento), mas o mesmo não pode ser dito de suas posições econômicas.
A pergunta imediata que me surgiu foi: estariam os 40% de eleitores brasileiros conservadores mal representados politicamente? Acredito que sim, mas é possível afirmar que hoje essa crise de representação aflige quase a totalidade dos eleitores, o que indicaria uma crise em todo sistema e não apenas na inexistência de uma direita forte.
A segunda pergunta que me surgiu, e essa mais perturbadora, foi: porque tanto eleitores quanto partidos preferem esconder o fato de estariam alinhados com tendências conservadoras, ainda que em questões individuais deixem isso transparecer? Meu maior interesse recai sobre as questões econômicas, que considero a mais relevantes e aonde existem menos partidos/candidatos dispostos a sustentarem posições direitistas.
Ao observar o posicionamento público dos diversos partidos e como eles se colocam no horário político, fica clara essa fobia de "parecer de direita". Os partidos de centro e de esquerda, especialmente o PT e seus aliados tradicionais, conseguiu com enorme sucesso associar o "ser de direita" ao período da ditadura militar, o autoritarismo ou um conservadorismo exacerbado. Em casos mais extremos, associa-se a direita até com o nazifascismo no Brasil, um absurdo (seria o equivalente a associar sistematicamente a esquerda ao Stalinismo ou Maoismo). A direita liberal moderna é completamente oposta a direita fascismo.
Aliam-se a isso, ao meu ver, nosso fraco sistema educacional, a tendência de professores de história/geografia tenderem ideologicamente à esquerda e a crença generalizada do governo como "salvador da pátria".
Aliam-se a isso, ao meu ver, nosso fraco sistema educacional, a tendência de professores de história/geografia tenderem ideologicamente à esquerda e a crença generalizada do governo como "salvador da pátria".
Por exemplo, por realizar, durante o governo de FHC algumas ações ligadas a doutrina neoliberal, o PSDB foi taxado e ainda é popularmente classificado como um partido de direita (ou centro-direita), em geral de maneira pejorativa. Um erro não apenas teórico, mas histórico. No senso comum brasileiro, "ser direita" é ser conservador, preconceituoso, "não gostar de pobre", uma visão bastante deturpada. Alia-se a isso, de maneira poderosa, a crença arraigada no Brasil de que o governo deve ser o grande provedor do bem estar social e dos investimentos na economia. Apesar das críticas comuns ao desperdícios do governo a aos impostos altos, o que sempre se vê são reivindicações que buscam a ampliação da cobertura do estado e seus benefícios (o que se viu nos protestos de junho, por exemplo).
No ideário popular, portanto, ser de direita é feio. É quase como ser mau, individualista, reacionário. A possibilidade de desenvolvimento social e igualdade é simplesmente inconcebível em um governo de direita. Essa percepção e seus impactos prejudicam severamente o debate político e empobrecem a democracia.
Outro fator que explica a inexistência de partidos de direita no Brasil é a falta de discernimento que há quanto à importância da criação de um partido com valores sólidos, enquanto o oportunismo e o fisiologismo são armas para a conquista do poder. Ser ideológico simplesmente não compensa. Defender uma ideologia contrária à da maioria, compensa menos ainda.
Com todos obrigados a se voltar para o centro, a abrir mão de qualquer crença ideológica à direita, a única saída torna-se o fisiologismo e as alianças tácitas. O poder pelo poder, sem uma confrontação de posições, mas uma acomodação que coloque cada partido em uma boa posição para acessar o poder. Por isso temos mais de 30 partidos para escolher e quase nenhum representa nada. Nosso espectro político varia entre um centro fisiológico e "sincrético" onde se encontram quase todos os partidos e uma extrema esquerda que não representa mais quase nada e quase ninguém.
Outro fator que explica a inexistência de partidos de direita no Brasil é a falta de discernimento que há quanto à importância da criação de um partido com valores sólidos, enquanto o oportunismo e o fisiologismo são armas para a conquista do poder. Ser ideológico simplesmente não compensa. Defender uma ideologia contrária à da maioria, compensa menos ainda.
Com todos obrigados a se voltar para o centro, a abrir mão de qualquer crença ideológica à direita, a única saída torna-se o fisiologismo e as alianças tácitas. O poder pelo poder, sem uma confrontação de posições, mas uma acomodação que coloque cada partido em uma boa posição para acessar o poder. Por isso temos mais de 30 partidos para escolher e quase nenhum representa nada. Nosso espectro político varia entre um centro fisiológico e "sincrético" onde se encontram quase todos os partidos e uma extrema esquerda que não representa mais quase nada e quase ninguém.
Não clamo aqui pelo surgimento de partidos conservadores no Brasil e provavelmente esses novos partidos de direita não teriam meu voto. Não creio que há muito que valha a pena ser conservado no Brasil, apesar de desejar um governo um pouco menos presente, gastão e ineficiente.
Compreendo, porém, que o papel da direita seria fundamental para o desenvolvimento do debate democrático no Brasil. Não pode haver esquerda forte sem uma direita forte e, de certo modo, um pólo é necessário para manter a relevância do outro. Não haverá democracia representativa de fato enquanto uma parte tão grande da população estiver tão mal representada politicamente e enquanto as lideranças políticas não se posicionarem sem o temor de romperem paradigmas, alianças interesseiras e programas partidários vazios.
Nota:
O Pastor Everaldo, candidato à presidência pelo PSC tem se apresentado como um candidato tipicamente de direita, numa grande aproximação a linha ideológica do Partido Republicano dos EUA, também de forte base evangélica: conservadorismo moral e social aliado a forte liberalismo econômico. Infelizmente o Pastor não pode ser um candidato a ser levado à sério...
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